O Problema do Ser, do Destino e da Dor

 

Hoje relendo Léon Denis, O Problema do Ser, do Destino e da Dor, me detive à introdução que data de Paris, 1908. O autor descreve nestas páginas uma síntese introdutória as questões afetas a educação dos “homens”, para sair de uma sociedade negativa, atribui ele, a tarefa de educar ao Espiritismo Cientifico, ou Espiritualismo, para usar a palavra do autor.

Iniciamos nossa reflexão com a citação de Francisque Sarcey, que Denis utiliza para afirmar suas premissas. “Estou na Terra. Ignoro absolutamente como aqui vim ter e como aqui fui lançado. Não ignoro menos como daqui sairei e o que de mim será quando daqui sair”[1]Assim, demonstra Denis que o meio universitário impregnado pelo positivismo, não reconhece a existência de uma força maior que tudo guia e questiona os destinos do homem.

A proposta reflexiva do livro em questão é apresentar os princípios da existência humana, o autor, já na introdução questiona que, “Universidade, assim como na Igreja, a alma moderna não encontra senão obscuridade e contradição em tudo que diz respeito ao problema de sua natureza e de seu futuro”. E a ponta que, “aqueles a quem incumbe à alta missão de esclarecer e guiar a alma humana parece ignorar a sua natureza e os seus verdadeiros destinos”.
 
Para Denis, as instituições que deveriam guiar o homem para o progresso, lhe embutiram no dia a dia do viver cotidiano “o pessimismo” que, denominou de “a doença moral do nosso tempo”. Afirma que, “a crise moral e a decadência da nossa época provêm, em grande parte, de se ter o espírito humano imobilizado durante muito tempo”, pelas instituições que deveriam libertá-los.
 
Mais adiante, ressalta o autor que, “o conflito dos interesses e a luta pela vida tornam-se, dia a dia, mais ásperos”, no seio de uma sociedade que não sabe para onde caminha e nos apresenta um principio fundamental que diz: “nenhuma obra humana pode ser grande e duradoura se não se inspirar, na teoria e na prática, em seus princípios e em suas explicações, nas leis eternas do universo” e assevera, “somente a ideia é mãe da ação”, visto que “tudo o que é concebido e edificado fora das leis superiores se funda na areia e desmorona”.
 
Já nestas primeiras palavras busca responder os questionamentos de Sarcey ao dizer-nos que, “a evolução gradual e progressiva é a lei fundamental da Natureza e da vida. É a razão de ser do homem, a norma do universo”. Assim, nós homens não escapamos as leis do universo, e aqui estamos para evoluir, junto e com a natureza e que o principio desta evolução é individual.
 
Questionando as ideologias políticas que apregoa o progresso na coletivização de tudo, nos alerta que, enquanto “se ignora o homem individual, como se poderia governar o homem social?”. Aludindo que “a origem de todos os nossos males está em nossa falta de saber e em nossa inferioridade moral”. E continua dizendo “quaisquer que sejam a forma política e a legislação de um povo, se ele possui bons costumes e fortes convicções, será sempre mais feliz e poderoso do que outro povo de moralidade inferior”.
 
Em outro paragrafo Denis, nos chama a refletir sobre a religiosidade, ou como ele diz espiritualismo, pois, “a massa humana, o povo, sem crenças, sem princípios fixos, está entregue a homens que lhe exploram as paixões”. Assim, “a humanidade, cansada dos dogmas e das especulações sem provas, mergulhou no materialismo ou na indiferença”. E afirma convicto que “a educação do homem deve ser inteiramente refeita”.
 
Na perspectiva de nos apresentar a Doutrina dos Espíritos e o Espiritismo com Doutrina Educadora dos Homens para as questões do Invisível no Além Tumulo, discorre que “não há salvação para o pensamento, senão por meio de uma doutrina baseada na experiência e no testemunho dos fatos”, tanto quanto, “a educação, sabe-se, é o mais poderoso fator do progresso, pois contém em gérmen todo o futuro”. Atribui-se a educação a tarefa de “repor o Espiritualismo na base” da formação do homem e trabalho árduo “para refazer o homem interior e a saúde moral”.
 
Conforme as reflexões iniciais de Denis “um tempo se acaba; novos tempos se anunciam. A hora em que estamos é uma hora de transição e de parto doloroso” e somente um “o observador atento pode verificar que uma lenta e laboriosa gestação se produz”. Portanto, “pode-se, entretanto, em nossa época, viver e agir com mais intensidade do que nunca; mas é possível viver e agir plenamente, sem se ter consciência do fim a atingir?”.
 
Finalizando nossa pequena contribuição e reverberar tão importante obra da Doutrina dos Espíritos, é necessário que se tenha por convicção que “o universo é regido pela lei da evolução; é isso o que entendemos pela palavra progresso” e  nosso caminho “para o futuro, para a vida sempre renascente”, transita “pela via imensa que nos abre um Espiritualismo regenerado”.
 
Quem nos dita o caminho são as vozes “reveladoras do túmulo”, visto que elas que já transitaram por estes caminhos ainda obscuros para nós, “nos trazem uma renovação do pensamento com os segredos do Além, que o homem tem necessidade de conhecer para melhor viver, melhor agir c melhor morrer”.
 
Por Valdecir Martins
 
 
Fonte: DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Traduzido do Francês Le Problème de l’Être et de la Destinée, 1905.
 
 
 

[1]Francisque Sarcey era professor universitário e um célebre crítico literário e conferencista inspirado e escreveu estes questionamentos no Petit Journal crônica em 7 de março de 1894.

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